sábado, 21 de junho de 2008

A Dança.




Movimento.
Uma dança muda e exclamativa.
O suor, o sangue, as veias que correm contra o tempo, o vento que luta com a maré o bailarino que não sabe quem de fato é, a musica que não sabe bailar.
E tudo dança em suas respectivas coreografias, cada passo sua magia, cada erro sua condenação.
Mãos atadas ao descaso, olhos fechados ao momento, braços erguidos ao acaso,dance mesmo que o corpo já não se mexa, mova-se mesmo que imóvel, afinal dançar é a arte de expressar o que facilmente não se expressa è a arte de curar feridas, de pagar penitencia, de libertar-se de si e dos outros.
A dança é a frase da alma muda, é a peça da encenada, surda é um instante qualquer talvez.
E quando o corpo dança, a idéia balança, o olhar se move, o corpo dança com a alma que desliza e a dança transpira o acaso. Dançamos o que vivemos e o que não vivemos, dançamos para expressar, exprimir e inspirar tudo aquilo que foi, é e virá.
Enquanto dança o corpo escreve essas palavras nunca ditas.
Dançamos sonhos, fantasias, devaneios em cada passo,transformamos o movimento em historia, transformam a historia em coreografias.
E então ofegantes respiramos mais uma pagina em nossas memórias, mais um momento embalado pelo som que dança e vibra em cada passo contido dentro de nós.

Karina S. Borges
21/06/2008

sexta-feira, 6 de junho de 2008

O Espiral.


Espiral, espiral.
Oito horas da manhã, o café esta sobre a mesa, o leve vapor quebra a monotonia do ar, o cheiro acorda as flores que murchavam em casa, tudo era quase cinza.
Oito e meia, o despertador tocou quase rouco, era hora do trabalho, a casa, o café, o porta retrato, tudo estava lá, tudo, menos ele.
Antes que o dia se levantasse da cama ele saiu, sem levar nada, sem lenço sem documento, alma nua, sem vontade de querer ser ele.
E então caminhou muito e ainda não se sabe o quanto e nem pra onde.
A cada esquina abandonava migalhas de si mesmo, mesmo não tendo a intenção de voltar, de seguir a mesma trilha, de viver do que passou.
A vontade de correr era cada vez maior quando pensava em papéis, contratos, tintas, documentos, transito, palavras.
E então ele correu o máximo que pode tudo o que conseguiu, ele se perdeu para poder se encontrar, e foi preciso esquecer muito para se lembrar de quem era.
Espiral, espiral.
Seus olhos eram dois labirintos, seu coração um abismo, sua vida uma esfinge.
E ele foi de tudo um pouco.
Foi tudo o que pode e tentou ser tudo o que queriam e quando já não havia empenho, se empenhava em ser apenas nada, ah isso era tão difícil.
O tempo estava fechado, seus olhos bem abertos, mas era difícil correr com lágrimas nos olhos.
Naquela manhã quando ele acordou do sonho de estar dormindo, decidiu despertar, e então se levantou, provou pra si que estava vivo que era mais que uma gravata ou um pijama, era mais que computadores e televisões, ele correu com medo de seu leito, de seu jeito, sua perfeição e seu acomodar.
Esteve preso por muito tempo, correndo desesperadamente na esteira dos seus pensamentos, preso em espirais, correndo em seus labirintos até encontrar a idéia de que o café, a foto, as flores e a casa, tudo podia esperar por ele,tudo menos ele.

Karina S. Borges
06/06/2008

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Sonhos de boneca.




Ela ganhou a boneca.
E a boneca olhou pra ela
O plástico confundiu a visão
Impediu de cativa-lá, comove - lá.

Sou boneca sem casa
Com tanta casa vazia por ai
Tantas crianças para brincar.
Tantos brinquedos pra uma criança só.

Seria o egoísmo algo hereditário
Ou será que faz parte da brincadeira?

Minha casa esta lá embaixo
E eu aqui na prateleira
Minhas ruínas tão ruins
Quanto os que aqui me isolam.

Ah mais e daí?

Uma boneca não é de verdade
E ela já tem tantas outras.
Que talvez seja mesmo verdade
Talvez nada seja insubstituível.
Talvez pouco seja o combustível
Para esta locomotiva que não se comove.

E acima da casinha cor de rosa
A prateleira continua vazia
E já não há vagas
Milhões de bonecas em suas embalagens lacradas
Várias bonecas com estórias a serem narradas
Coleções de historias esperando para serem interpretadas

A criação perfeita e personalizada
A divina criação emborrachada
Em vários tamanhos e cores
Esquecida em estantes, armários.
Ausente de dores e amores
Sonhos plásticos em mostruários.

E assim permanece na caixa.
Onde a infância passa e o tempo não passa.
Onde a imortalidade é um ócio que dói.

Na loja, uma possibilidade.
Nas ruas a vontade.
Em casa o desperdício

Em casa, a esperança de “viver”.
Como gente grande, com gente “pequena”.
Ou quem sabe apenas ser por um momento
Guiada pelas mãos de uma fada verdadeira.
Sendo ela mesma algo diferente do que é

Karina S. Borges
02/06/2008