quarta-feira, 27 de junho de 2007

Monótona melodia


Sobre a vida, um céu pesado, sobre a mesa um café, sobremesa amarga, sobre a mesa do tempo enjaulado, sob a chave que não abre, bem onde ninguém mora,na voz que ninguém ouve, no sorriso tremulo que não fala. E a cor amarela é parda, e o dente branco, amarelo, e a vergonha faz o sorriso cada vez mais raro, e o dinheiro faz o custo cada vez mais caro, faz os valores cada vez mais baixos.
E na guerra: um ganso no lago. E na vitrine: um olho molhado, e por traz dela um cheque dourado. E nas ruas: um vento gelado, sob o mármore: um mendigo deitado. E no hotel um rico mimado embalado pelas penas do ganso do lago, pelo amor cantado, seduzido pelo ar condicionado.
Este tempo precisa de alavanca: um macaco não levanta um guindaste não move.
Este tempo precisa da manivela, eu olhei pela janela, e por aqui o tempo não passou.
Mas me disseram que o tempo voou, olhei pro calendário e não vi asas, vi as brasas que flamejavam, e já não era vermelha, desencadeei cadeias e emaranhei o mar, eu fiz de tudo pra passar, tudo aquilo que não passou.
Passeou por tudo isso: entre as pontes e os meios termos, Decidiu parar no meio, acender seu cigarro e viver o talvez e a musica repetia sempre o mesmo refrão,onde a pressa dizia não,onde a calma corria dilacerada.Onde a ânsia vomitava ansiedade,onde a angustia anseava uma verdade, onde o refrão sempre repetia: Tic-Tac, Tic-Tac, Tic-Tac, Tic-Tac, Tic-Tac, Tic-Tac, Tic-Tac, Tic-Tac, Tic-Tac, Tic-Tac, Tic-Tac.
Karina S. Borges

sábado, 16 de junho de 2007

O Trêm


Ele parte, ele segue no horizonte,leva tantos consigo,deixa a saudade comigo, ele parte, deixa sua fumaça cinzenta nos olhos de quem fica, parte com a dor nos olhos de quem segue, e ele parte sem a menor saudade, sabendo apenas que um dia precisa deixar de existir, como tudo que existe como você que agora lê.
Comporta tanta gente, o espaço é tão pouco, são tantos os outros, e nem sei se sou capaz de me lembrar de todos estes rostos, de todas estas vozes, o que faço no meio deles? Quem sou dentre estes? Tudo, tantos, todo, eu até me confundo entre outros olhos e corações. Eu me jogo neste chão, há cadeiras lotadas e corpos vazios ocupando o espaço, eu sou pisoteada todos os dias por todos deste mesmo vagão, por todos estes que me vêem e não me notam, por todos aqueles que também estão cansados, mas permanecem em pé suportando tudo aquilo que é insuportável.
Nesta composição há três tipos de pessoa:
Pessoas sentadas: Estas apenas dormem, tem o conforto, o status, mantém a roupa limpa e a mente vazia e distante.
Pessoas em pé: elas estão com olheiras, com sono, perdidas e cansadas, calos nos pés, nas mãos, bolsas pesadas nas costas, elas estão em pé, mas não sabem por quê.
E enfim aqueles que estão “jogados no chão”: estes não têm nojo nem medo de serem simplesmente o que são. Estes ficam em silencio, mas por sua vez são os que mais falam.Vistos por aqueles que estão sentados são maltrapilhos,sem senso ou valor.
Vistos pelos que estão é pé são coitados, muito mais cansados do que eles, compartilham de uma desgraça bem maior.Mas eles sabem sentir, sabem ser, enfim sabem viver muito mais que qualquer um, porque estes “jogados no chão” não tem medo de viver.
Este trem é o tempo,seus trilhos á vida, o destino, ah o destino, este é o mais obvio e ao mesmo tempo oculto de todo o sempre: A morte!
Karina S. Borges

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Cigarros Invisíveis


O medo consome o cigarro da angustia lentamente, fumaças inertes que confundem a mente, algo que posso ver, mas não tocar, mas não sentir, algo que esta em meus olhos, mas não é meu, nem seu, e então de quem é?
Um Cigarro Invisível, um cigarro de solidão, o consumível, o consumado, o câncer em algum lugar de todos nós, a psicose, a depressão mais profunda e mais oculta, mais explicita e ninguém vê, os pseudos da madrugada, os anseios e enseadas do teatro inacabável da angustia e tortura das cenas transcendentes e incalculáveis que o tempo arma, desarma e descarrega em todos nós.
Estão no ar, estão no mar, estão no oceano e no deserto duelando dentro de nos, e o que vemos e sentimos esta embaçado pela fumaça que habita e modifica a forma e a figura, o feio e a formosura a todo instante.Sigo devagar, é difícil respirar, é difícil abster-me dos cigarros invisíveis, constantes e ausentes na mesma medida em que um choro surge e um corpo cai.
Karina S. Borges