quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

S.O.S


Nada vê.
Nada quer ver.
E assim segue, persegue, se perde dentro do nada, dentro da sala, só dentro do solo.
Madrugada: a noite alada que passeia pelos olhos quase fechados, desencontrados, despercebidos aos espelhos do céu, olhares ao léu, náufragos de um refugio qualquer.
Ah e o que vier que venha que fique que fuja e traga abrigo, que me faça companhia e me traga um perigo para que eu possa assim me emocionar, me encontrar e quem sabe até pensar em começar a viver, em ser o que de fato sou e não percebo.
Um cartucho de balas doces, carameladas, frias como o aço, como pétalas de rosa úmidas de orvalho, vermelhas como amor que também perde a cor, o cheiro e aos poucos até do nada se apaga, como a bala que também fere o peito e a garganta, que derrama sangue, que derrama lagrima, que apaga a palavra, que a página rasga.
Não veja, de fato não há nada, Há a cruz e a espada, há o algo e o alguém. E por quê? Por quem? Pra que sacrificar aquilo que não se vê não se toca?Como um baú de pesadelos que se carrega, e se gasta vagarosamente, que perturba o sono, a noite e o dia, um duelo em nossas lembranças vazias, um refugio de cores onde o cego ainda vê.
A cada dia uma nova questão, um novo interrogatório, um novo passo, uma nova historia para não ser contada, uma palavra pra não dita, uma esperança desacreditada.
E assim o cego caminha na estrada fria de ferro, nos trilhos rumo ao destino, na linha do trem da vida, ele machuca os pés, reabre feridas, ele caminha porque lugares são todos iguais e qualquer lugar serve, pra ele todos os dias são deja vu, ele sente o vento, ouve o canto desesperador do trem que se aproxima o cego se anima, pois no fim, há a esperança de ver a luz no fim do túnel, uma cor além das que o pesadelo tem. E do fim em diante é tudo um começo, um crédito que o cego desacredita, mas como em toda a sua vida também finge que não vê.
Karina S. Borges
20/02/2008