domingo, 6 de dezembro de 2009

Despertadores e Torturas.


É madrugada e o despertador proclama sem perdão o bárbaro momento em que somos exportados dos sonhos para a realidade, já não há mais tempo para sonhos, pois o percurso do para onde ou do porque nos aguarda sem cerimônias, salas ou quartos.
Repentinamente mudanças, submissões, declínios, impotências, imunidades, descontentamentos, disputas, desejos, impossibilidades, expectativas, cobranças, perdas, fugas, amores, desamores, livros, macacos, carros, chocolate, sexo, dinheiro, adaptação, evolução, um determinado valor no final do mês, pipoca, casamento, família, filhos e morte nos cercam e nos seguem como sombras, nos motivam de forma sádica a prosseguir, a abandonar em nossos leitos nossos sonhos sem face e sem alicerce.
Em batalha diária tornamo-nos nossos próprios heróis e inimigos,juízes e platéias de nós mesmos, e se por um lado nos enfeitamos e nos exibimos com diversas cicatrizes e hematomas, por outro nos escondemos por trás de curativos e amuletos, por trás de disfarces ou fantasias propicias ao próprio auto-engano, trampolins para os novos e mesmos ciclos renovados pelas areias movediças dos sonhos e ressurgidos pelas fatalidades, necessidades e banalidades cotidianas, memoradas pontualmente pelo canto atordoante de diversos despertadores com a mesma finalidade e sentido: proporcionar o dessentido.