sexta-feira, 28 de março de 2008

Entre Homens e Guarda Chuvas.


E mais um dia de chuva na cidade, e a chuva demora a passar, mas o tempo existe dentro e nós, e quem somos nós?Quem é a cidade?Pra que serve a chuva?
Para uma formiga uma lagrima é chuva, Pro homem, a chuva deixa de ser benção e torna-se desespero, ausência de possibilidades, e ás vezes a desculpa perfeita.
Ousam e abusam da moda, aqueles que saem com seus guarda chuvas cinzentos ou coloridos, que usam botas e tecidos impermeáveis, que tornam todo o toque e contato artificial, ousam mesmo os que camuflam e sintetizam a natureza.
Coragem tem aqueles que sabem, querem e podem se molhar, os que encaram a gripe e os olhares como palmas e platéia.
Espertos mesmo são os que desfrutam dos dias de sol os que queimam a pele e se expõe em dias frios como quem possui um compacto verão particular instantâneo.
Sábios somente são os que carregam o sol consigo em tempo integral,os que conhecem a intensidade de tudo,os que extrapolam limites e não esquecem a integridade nos bolsos.
Ah que saudade da balança, do balanço do vento, dos cabelos, do mar!
Ah quanto tempo faz que já não existo, que persisto aqui debaixo destas tempestades velhas e empoeiradas,dos papéis, dos contratos e filas,infinitas filas de esquecimento.
Esqueci,e o que eu ia falar já não existe,paira por ai em um outro pensamento, um pensamento de outro que é meu, e eu não tenho o direito de tê-lo.
E o mundo é de todos, e não cabe ninguém, ninguém tem nada. Todo mundo se aperta em um trem, tropeça na escada, a fome é tamanha, quase proporcional a fartura do campo, há por ai tanta água, tantos copos vazios nos armários, tantos sucos, tantas mortes nas esquinas, tanto tempo, e pouquíssimos rolex por ai.
Chove, e a chuva é forte, passa na televisão, chove ainda mais na televisão, e a mentira, o milagre da multiplicação na mídia inunda a cidade,perturba o sono de quem lê,ameaça o sonho de quem corre de encontro à chuva.
E ainda chove lá fora, e esta chuva é diferente sobre cada cabeça, e vista de cima a chuva é tão igual, tão semelhante entre pequenos e grande grupos, pequenos e grandes absurdos que chovem sobre os guarda chuvas simples e enfeitiçados perdidos por ai.
E entre Homens e Guarda Chuvas sempre existe um conto, que não conta o ponto, que perde o sentido do texto, que fere o fio da meada,quem cai em uma emboscada e se envolve em mil esfinges.Guardas chuvas são mascaras,os homens são soldados medrosos e ociosos,que anseiam o final da chuva e temem o dilúvio póstumo.

Karina S. Borges
28/03/2008

sábado, 15 de março de 2008

Balões e Palavras.


Medo todos sentem, ele sente medo, e de repente se oculta atrás de suas próprias lagrimas, se afoga, se emerge, se substitui.
Lá no fundo todos têm medo, todos sofrem e ninguém tem coragem suficiente de transparecer o que de fato é, mas enfim, fortes mesmo são aqueles que sabem chorar.
Sorrir é fácil quando não se tem vontade, difícil mesmo é esvaziar o rio,e seguir sua própria correnteza sem a ajuda de ninguém.
Difícil mesmo é aceitar o obvio, fantasias são mais bonitas e coloridas do que as roupas de todos os dias que nunca surpreendem ninguém.
Receios de espelhos, de faces e distorções, receio de situações, terror de seguir em frente, de ser como a gente, de encontrar o que não se espera na próxima esquina.
Só se tem medo do que se conhece só se lembra do que se quer esquecer, só se perde aquilo que se quer ter.
Qual é a face?Qual a frase?Qual o perfume e qual é a cor?
Nunca se sabe as perguntas, e mesmo assim sabemos que em algum lugar existem as respostas, as propostas em que nunca pensamos a flexibilidade que ninguém nunca soube existir, as malas que não temos, mas que sempre estão lá no momento de partir, as primeiras a chegar, as primeiras a ir embora.
A chuva transforma as esculturas, o vento modifica as dunas, as pessoas modificam o mundo, o medo, a perda e a dor modificam as pessoas.
“Parabéns” é o que eles querem escutar, “Eu te amo” é o que eles precisam ouvir e de vez em quando um abraço, de vez em quando um sorriso, de vez em sempre a solidão, de vez em nunca a escuridão, de vez em sempre os balões coloridos, de vez em nunca sua explosão.
Eles sempre dizem “adeus”, e sempre se engasgam, se esquecem e arrependem-se de não ter dito “Volte sempre”.

Karina S. Borges
15/03/2008