domingo, 18 de maio de 2008

O conto


Caminhou por algumas horas, e então sentou a beira da praia, de repente as ondas a levaram a tocaram, e pode senti-las, pode sentir seus pés no chão, pode ao poucos inundar-se na imensidão do mar.
A maresia a deixou tonta, e no mar o seu oásis, e na areia os seus castelos mal assombrados.
No frio, na chuva, na praia sua solidão, sua doce solidão que tanto lhe assombra, e tanto lhe agrada, e então na areia continua a olhar para seus castelos de sonhos, seus castelos sem alicerces, suas memórias sem raízes.
Já não tem medo dos raios que tornam o horizonte púrpuro, já não a assombra a ausência de pessoas na imensidão deste lugar, já não faz falta as crianças para brincar, já não a espanta que todos tenham a deixado partir, e que todos tenham a deixado de lado e que ao seu lado não há nada e que nada há ao seu lado.
Entra no mar.
Já não há nada a perder.
O oceano é sempre o mesmo, e sempre nos surpreende, nos repreende,assim como as pessoas, nos agrada e nos machuca nos consome e nos farta.
Ela nada sabe, nadar ela não sabe, a leve consigo,adote-a, a esconda em seu abrigo, e em seu nome falará, e por ti viverá, e hei de proteger cada gota, cada grama, cada olhar.
Ela é tão pequenina, ela já viveu tanto, ela nunca viu nada, ela sempre vê o nada.
Seu baldinho vazio, suas pás perdidas, sua paz enterrada por ai, seus pássaros passam por aqui e enfeitam a praia suja,e decoram sua praia linda, seu horizonte tão cinza, castanho, branco, roxo, azul e verde.
Gira o vento o cata-vento, o vento gira o cata-vento, cata vento o cata-vento, conta o vento o cata-vento, canta o vento o cata-vento, um não vive sem o outro, o outro não vive sem o um.
E quando é noite e o mar se torna espelho, olhar pra si mesma é a parte que mais lhe agrada, afinal de contas ela não sabe somar, e já não acredita em contos de fadas, não acredita e nem espera nada além dela e dor mar.

Karina S. Borges
18/05/2008.

4 comentários:

Unknown disse...

"...e que todos tenham a deixado de lado e que ao seu lado não há nada e que nada há ao seu lado."

Todos, menos eu Kaa!
Disso você pode ter certeza;
Te amo e ponto, você é a irmã que eu não tivee...
Nadaa e ninguém mudaa isso!

Anônimo disse...

Oi, sou eu de novo, lembra?(espero que sim)
Oh doce poetisa, suas palavras entram como facas em minha alma.
Realmente, devemos tirar força da solidão!
"Não se pode fazer nada sem a solidão"
Té mais...

Anônimo disse...

É um texto esperançoso, eu diria! Legal K, que ele traz a valorização de coisas simples e também desperta boas lembranças!

Byers disse...

"de repente as ondas a levaram a tocaram"

Faltou um "e".

""de repente as ondas a levaram e a tocaram"


E falto inverter a ordem das sentenças, primeiro se toca em algo para depois levá-lo....

"não acredita e nem espera nada além dela e dor mar."

É " e a dor do mar" ou "e do dar" ?


Do resto, bom texto.

Este me fez lembrar de uma reflexão de Aristóteles sobre a solidão.
Ele começa o texto buscando saber o pq da solidão existir, quem a sente e qual motivo para tal.

No meio da reflexão ele chega a hipótese de que principalmente pessoas de espírito manso sentem a solidão e as mentes muito curvadas para si mesmas [não to dizendo dos egoístas].

Ele chega até a dizer que todo filósofo é condenado a sentir a solidão, pelo menos uma vez de forma intensa.

No fim, Aristótles chega a conclusão que a solidão fortalece o espírito, e que na verdade é benéfica para aqueles que são reflexivos.

Mas que representa um mal para os que são governados segundo suas paixões e sentimentos.


Bem, é isso, posto esse bla blá eu "vo embora".