E logo cedo ele sai, bate a cara no escuro, ele sai e vê vidraças, vê espelhos e muros. Ele sai e leva sua rede, seu anzol, sua vara de condão, ele tranca o portão e fica trancado para o lado de fora, ele vai e não demora, ele se esquece nos segundos.
Ele atravessa a cidade, em cada janela vê um mundo, o seu medo aumenta a cada uma delas, afinal todo mundo tem um pouco de "algo", "alguém”, "ninguém" e de nada dentro de si... Nem tudo é choro, nem tudo é vela, nem tudo é a janela,nem tudo é a teoria.
Quem apagou as luzes dos postes daquela rua? Dos olhos daquele homem? Das cores daquela arvore?Onde esta a minha pipoca? O pescador pouco se importa,ele pensa e logo segue, logo esquece,ele vive de seus cenários, vive encenando e assistindo seu próprio espetáculo.
Ele caminha contra as regras, contra as placas,sobre as pontes,com lembranças aos montes,mas sem nenhuma bagagem,ele não é um colecionador,sempre devolve em dobro o que conquista, e sempre dá liberdade a tudo àquilo que é e não é seu!
Não tem graça guardar troféus pra si, alias não vale a pensa manter nada, nada alem do que aprende e desaprende.
Ele não espera nada alem da esperança.
O Pescador de cenários nunca trouxe um peixe pra casa, ah ele também não tem casa, nem bolso, nem olhos.
O pescador de cenários é cego, apenas sente, talvez por isso tenha mais privilégios... Talvez por isso seja o maior privilegiado.
Ele é o mapa da mina, o indicado para encontra-lo é fechar os olhos, e lá o pescador estará, vive em lugares que só existem para os que acreditam,e para quem deseja vê-lo,ele habita logo a beira da praia, ele nos espera de terno,no triangulo onde só se usam bermudas.
Karina S. Borges